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Esta frase não é minha, mas desde que a ouvi há uns 2 meses, confesso estar mais atento, observando a mim mesmo e aos pares, atrás de fatos que comprovem tal constatação.
“Qualquer um pode ser publicitário” saiu em uma conversa de bar, muito bem acompanhada por várias Bohemias, da boca de um ex-diretor de uma grande agência. Top Ten.
A própria trajetória desse ilustríssimo publicitário talvez comprove a autoria da frase: ele estudou nos confins do interior paulista, em uma faculdade que ainda ensina os 4 Ps. Mas em um sábado de sol partiu rumo a capital, onde ralou demais da conta, virou incontáveis noites, comeu incontáveis pizzas, fez carreira em estúdio e produção gráfica e se deu bem. Mui bien.
Se as faculdades estão abarrotadas de bicho-grilos, compostos por descolados, esquisitos, nerds, baladeiros, maconheirinhos e o diabo a quatro, então qualquer um pode ser publicitário mesmo. Ok.
Com exceção dos estudantes de Design, que contribuem a la Petit e Serpa com o que se deslumbra ser Direção de Arte, até que não é tão complicado assim ser D.A. Hoje é mais técnica que talento. Palavra da Apple.
To be redator também não são outros quinhentos. Voltaire, filósofo francês que no máximo seria um visionário de planejamento, escreveu um dos mais afiados trocadilhos de todos os tempos: “escrever é a arte de cortar palavras“. Portanto, cinqüentinha dá e sobra pra comprar uma navalha.
Qualquer um pode ser publicitário se copiar e colar a apresentação do Powerpoint, mudando o cliente, o mercado, dando um tapinha nos objetivos e substituindo as peças criadas para a bola, quer dizer, o cliente da vez. Se gostar de futebol era item de série até pouco tempo atrás, agora é dominar o Office.
E olha só: vibrar com a execução de um job desse gênero também não é pra qualquer um. Só para aqueles qualquer um que podem ser qualquer publicitário ruim. A vida ensina que nos tornamos grandes fazendo coisas pequenas com estilo, não dando Ctrl+C, Ctrl+V no Word. E qualquer um até que pode ser publicitário, mas não é tão básico assim. Que os digam as planilhas de mídia da vida, originadas geralmente das tabelas de Excel.
Um passsarinho me disse que qualquer um pode ser publicitário se a tarefa principal for babar-ovo. Legal. Aí acho que sim.
Debaixo das mesas de diretores que “curtem”, é que nem “coração de mãe”, e se isso for entendido como ser publicitário…
Qualquer um pode ser?
Pergunte ao oráculo que está dentro de nós mesmos. Fomos condicionados e moldados pelo tempo, pela seleção e pelos processos para nos comportarmos de certas maneiras que nem os modelos humanos de sexo, adultério e romance nas novelas, ou as invenções, progressos e regressos da ciência, o pai que é mãe, a mãe que é de aluguel, as ecodúvidas e as catástrofe-certezas são capazes de explicar.
Se qualquer um pode ser publicitário, o Homo Publicitarius é o último degrau da evolução. E os 100 mil genes do homem devem ser 100 mil campanhas publicitárias prestes a arrebentar.
Só pode ser esse o motivo dos clientes amarem dar uma de redator e diretor de arte. E pizza ser um dos pratos favoritos em todo mundo.
Já imaginou todo mundo de preto, com panca de sabichão, correndo atrás do seu leão?
Bom findi, Sr(a). Qualquer Um.
Homenagem do Qualquer Um de quase todas as sextas, Zé Ninguém.
Qualquer um pode ser publicitário (?) publicado originalmente na CASA DO GALO - O animal da publicidade.